13, 20 e 27/08/2016 - Curso presencial - Contação de histórias - Monalisa Lins

A arte de contar histórias


     Apresentação

     Contar histórias, costume ancestral quase apagado pela luz das televisões, tem sido retomado nas últimas décadas nos grandes centros urbanos, em forma de apresentações e espetáculos, em lugares como bibliotecas, centros culturais e escolas.

     O ato de contar uma história, porém, pode ir muito além de entretenimento. Se nos remetermos à sua origem e função social é, antes de tudo, um ritual afetivo, íntimo e aconchegante, que aproxima as pessoas, preserva e dissemina a cultura de um povo.

     E é neste ponto que chegamos à necessidade cada vez maior de incluir os contos e as histórias na vida e no dia a dia novamente.

     Hoje, além da televisão, temos os computadores, celulares e uma infinidade de telas que estão isolando os seres humanos em seus próprios mundos, os afastando de um convívio social cooperativo e principalmente afetivo.

     É importante saber utilizar todos estes novos recursos tecnológicos, mas o equilíbrio é fundamental para uma vida saudável.

     Contar e ouvir histórias tem se mostrado uma fonte de grande alegria e reencontro entre as pessoas, e desenvolver-se nesta arte pode trazer grandes benefícios de caráter pessoal e social.


Os contos de tradição oral

     O conto de tradição oral é a expressão de um povo, uma sabedoria poética que norteia sua existência. Por isso, pode-se pensar nele como um instrumento para abraçar diferenças e dissolver a intolerância, promotora de tantos conflitos. Todas as culturas são plenas, portadoras de encantos e mistérios, indagações e questionamentos. E a narrativa tradicional carrega essas marcas.

     Recuperar a literatura de tradição oral e trazê-la à luz dos nossos dias, abre espaço para o conhecimento e o respeito às diferentes etnias e culturas, podendo contribuir para a erradicação de atitudes que estimulam a segregação social e racial. Impede a uniformização da cultura imposta pela mídia, minimiza preconceitos, aproxima os territórios.

     Ensina crianças e jovens a olhar com consideração e reverência os diferentes grupos étnicos e sua cultura contribuindo para amenizar a intolerância geradora de violência, rancor e desprezo pelo diferente. Esta prática pode ser um caminho para despertar não só a consciência individual, intelectual e estética, mas, antes, uma consciência coletiva, ética e solidária, que reconhece cada povo como único na sua forma de ver o mundo. Estimula o viver em conjunto, fomenta o diálogo e a prática da amorosidade, que reconhece o outro como merecedor de atenção, respeito e afeto.


Diferença entre ler e contar uma história

     Os contos orais exprimem a história da humanidade.

     Quem narra se sente vivo e importante.

     Os contos populares são próprios da cultura oral. Enraizado na oralidade, o conto popular tem na sua base de comunicação a percepção auditiva da mensagem enquanto o literário, se enraizando na escrita, tem na sua base de comunicação a percepção visual da mensagem. Os contos tradicionais, cuja origem parece se encontrar nos rituais primitivos, que por muitos séculos orientam os homens em sua busca de conhecimento do cosmo e de si mesmos, não são obra de um só autor. Resultam da produção coletiva de um povo que os cria a partir das representações de seu imaginário coletivo e, ao mesmo tempo, encontra neles o alimento para nutrir esse mesmo imaginário.

     A palavra contada não é simplesmente fala. Ela é carregada dos significados que lhe atribuem, o gestual, o ritmo, a entonação, a expressão facial e até o silêncio que, entremeando-se ao discurso, integra-se a ela. O valor estético da narrativa oral está, portanto, na conjugação harmoniosa de todos esses elementos.

     A arte do contador envolve expressão corporal, improvisação, interpretação, interação com seus ouvintes. O contador recria o conto juntamente com seus ouvintes, à medida que conta. 


Contar se aprende contando

     Objetivos: apontar caminhos, por meio de narrações e vivências, para que cada um encontre a sua própria forma de contar histórias. Tornar acessível a todos a possibilidade de praticar esta arte milenar de forma simples, em que a palavra e o corpo são os principais recursos do narrador, seguindo a escola dos contadores tradicionais.

     Conteúdo: a memória afetiva e cultural, criação de histórias a partir de estímulos internos e externos, histórias de tradição oral e o contador tradicional, a arte de VER e sentir as histórias: exploração de personagens e paisagens do conto, identificação e exploração dos recursos internos do narrador, as histórias como possibilidade de conexão entre as pessoas e culturas diversas, narração como elemento criador de ralações afetivas geradoras de vínculos entre as pessoas. Roda de histórias.

     Bibliografia: 

     O ofício do contador de histórias - Gislayne Avelar Matos e Inno Sorsy - Martins Fontes 2005

     Acordais - fundamentos teórico - poéticos da arte de contar histórias - Regina Machado - DCL - 2004

     Gramática da fantasia - Gianni Rodari - Summus - 1982

     O fio da história - Cléo Busatto - CLB Produções 2011

     A sombra e o mal nos contos de fadas - Marie-Louise von Franz

     Baús e chaves da narração de histórias - Gilka Girardello - organizadora - Sesc 2006

     Contos tradicionais do Brasil - Luís da Câmara Cascudo - Global - 2009

     Contos e fábulas do Brasil - Marco Haurelio - Nova Alexandria - 2011

     O casamento entre o céu e a terra - contos dos povos indígenas do Brasil - Leonardo Boff - Salamandra - 2001

     Contos maravilhosos infantis e domésticos - Jacob e Wilhelm Grimm - Cosacnaify - 2012

     Contos de fadas russos - organizador: Aleksandr Afanas'ev - Vol. 1 d 2 - Landy 2002

     Fábulas Italianas - Ítalo Calvino - Companhia das Letras - 2002 

     103 Contos de fadas - recontados por Ângela Carter - Companhia das Letras - 2007

     O violino cigano e outros contos de mulheres sábias - recontados por Regina Machado  

     Companhia das Letras - Selo Seguinte - 2004

     Coleção Contos da Arábia - Amina Shah - Kadyc - 1997


     * Monalisa Lins, narradora oral de histórias, formação para contadores de histórias da Biblioteca Pública Hans Crhistian Andersen
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