15/08/2016 - Curso de formação sindical: trabalhando com gênero e etnia nas escolas - Paulo Edison de Oliveira

Etnia e gênero: duas identidades do mundo contemporâneo 

     Numa época de crise de paradigma, incertezas e ausência de verdades, a espécie humana é confrontada a todo momento sobre qual caminho deve seguir. O século XXI principiou com o desafio de problematizar todas as solidezes e dialogar com todo conhecimento produzido pela humanidade em todos os tempos e territórios. 

     Para ilustrar esta profusão de crise coloquemos uma lupa no conceito de identidade. Um sentimento de pertencimento que ao longo dos séculos se desloca em diversos campos, mas nunca deixa de paira sobre a condição humana. 

     Neste cenário o pensador Zygmunt Bauman nos provoca a percebermos a fluidez desta convenção social necessária.  É da contemporaneidade a polifonia de identidades, uma verdadeira miríade de possibilidade de nos pertencemos a vários grupos. Se antes nos definíamos a partir de nossa descendência e/ou origem cultural, hoje, com a mundialização, podemos nos definir a partir da crença política, do gênero, da cor/raça/étnica, da religião, do time de futebol, da classe social, da geração, da nacionalidade etc. Não possuímos mais só uma identidade, mas, como disse Levi Strauss, um bricoleur de identidade. 

     É visível que a “identidade não têm solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociável e revogáveis, (...) e quando perde as âncoras sociais que a faziam parecer natural, (...)  a identificação se torna cada vez mais importante para os indivíduos que buscam desesperadamente um nós a que possam pedir acesso” (BAUMAN, 2005). 

     Neste bojo, agreguemos o horrendo legado da era moderna para com as chamadas minorias, uma divida histórica da humanidade, fruto da racionalidade colonialista, eurocêntrica e patriarcal que dominou o pensamento político, científico e cultural. O que culminou na necessidade de reparar estas injustiças históricas em busca de uma cidadania que promova a igualdade de oportunidade.  

     Assim sendo, estas reparações que só se realizam por meio de políticas públicas do Estado nacional, possui as relações étnico-raciais e de gênero como as mais capilarizadas nos discursos das lutas sociais.  No entanto, uma das problemáticas nestes conflitos e disputa dos recursos do Estado é como conviver com a diferença. A alteridade é o fio que procuramos tecer este novo processo civilizatório. 

     Num cenário desejável, a escola pode ser a protagonista deste processo. Perceptivelmente, como toda instituição contemporânea, a escola, indubitavelmente, precisa se renovar, mas, também é verdade, nenhum espaço público se tornou tão diverso e plural. São filhos de imigrantes, negros, indígenas, ciganos, cristãos, islâmicos, candomblecistas, pessoas com deficiência  etc. 

     Nosso desafio nesta renovação escolar  é  estarmos abertos a aprender com  a diversidade, a conviver com o diferente. Uma sociedade mais justa, solidária e democrática passa por pensarmos os desafios  via ensino e aprendizagem. Parafraseando Paulo Freire, se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Precisamos nos desfazer da mediocridade dos destinos sombrios neste mundo de invenções maravilhosamente vazias.


     REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

     BAUMAN, Zygmunt. Identidade (trad. Carlos Alberto Medeiros). Rio de Janeiro. Zahar, 2005, pág. 17. 


     * Paulo Edison de Oliveira - cientista social, professor de ensino  fundamental e médio desde 2001, consultor na área de formação de professores desde 2013, pesquisador de relações étnicas raciais da PUC /SP e ativista da economia solidária a cultura. Foi coordenador de projetos sociais/culturais no terceiro setor de 2006 a 2012.


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