27 e 29 de setembro de 2016 - Curso de formação sindical - “Trabalhando com gênero e etnia nas escolas” - Nanci da Silva Pereira

     Somos um país construído tendo por base a diversidade cultural. 

     A diversidade cultural é constituída por vários aspectos que representam particularmente as diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes, o modelo de organização familiar, a política, entre outras características próprias de um grupo de seres humanos que habitam um determinado território.

     As múltiplas culturas formam a chamada identidade cultural dos indivíduos ou de uma sociedade; uma “marca” que personaliza e diferencia os membros de determinado lugar do restante da população mundial. O termo diversidade diz respeito à variedade e convivência de ideias, características ou elementos diferentes entre si, em determinado assunto, situação ou ambiente. 

     Apesar da diversidade cultural registrada nos documentos oficiais, por que os conteúdos programáticos dos livros didáticos e dos currículos escolares ainda apresentam como padrão o homem, branco e heterossexual, se os bancos escolares são frequentados por alunos de diferentes origens étnico-raciais e gêneros?

     Os processos de negação desses “outros” ocorrem no plano das representações e do imaginário social quando estabelecemos os conceitos do que é ser belo, ser mulher ou até mesmo do que é ser brasileiro. 

     Contradições em nossa cultura: de um lado, há o discurso de que nós somos um povo único, fruto de um intenso processo de miscigenação, que gerou uma nação singular com indivíduos culturalmente diversificados; por outro lado, vivenciamos em nossas relações cotidianas inúmeras práticas preconceituosas, discriminatórias e racistas em relação a alguns segmentos da população, como as mulheres, os indígenas e os afrodescendentes. (Abramowicz, 2006)

     Como trabalhar os conceitos de gênero, raça e etnia em sala de aula para valorizar as múltiplas identidades constituintes no ambiente escolar?

     Nos currículos escolares e falas dos professores ainda há uma invisibilidade ou a visibilidade subalterna de diversos grupos sociais, como os negros, os indígenas e as mulheres. Onde há diversidade existe diferença.

     A diferença não é uma marca do sujeito, mas sim uma marca que o distingue socialmente e se estabeleceu como uma forma de exclusão. Ser diferente na educação ainda significa ser excluído e/ou ser subrepresentado nas instâncias sociais.

     A ação pedagógica pautada na diversidade cultural precisa colocar em seu centro uma teoria que permita não só reconhecer e celebrar a diferença, mas também questioná-la, a fim de perceber como ela discursivamente está constituída. O conceito de gênero menino e menina foi produzido no interior das relações sociais e faz parte do nosso cotidiano.

     - Diferença não significa desigualdade, educação de meninos e meninas: meninos devem ter mais vantagens (direitos) que as meninas.

     - Reaprender a forma igualitária para homens e mulheres; discriminação das mulheres e cobrança aos homens; homens ganhando mais do que as mulheres em todas formas de ocupação; dupla jornada de trabalho.

     - Não é por ser homem ou mulher que um terá mais privilégios e oportunidades que o outro.

     - Cultura define como deve ser o comportamento de homens e mulheres.

     Quando dizemos que certas tarefas são próprias de meninas e outras de meninos estamos limitando as formas de aprendizagem e inclusive as experiências de vida de estudantes. Muitas vezes, esse tipo de definição atrapalha o entendimento sobre o que é estar no mundo e isso pode virar um obstáculo no processo de construção de desejos, expressões e formas de sentir. 

     A escola é, pois, o ambiente adequado para levantar essa discussão e também para, por meio da educação, ajudar na construção de uma sociedade mais justa e democrática.


     BIBLIOGRAFIA

     COSTA, Marisa Vorraber. Currículo e pedagogia em tempo de proliferação da diferença. Porto Alegre (RS), Edipucrs, 2008.

     SILVA, Ana Célia. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador (BA), Edufba, 2005.

     LINS, Beatriz Accioly; MACHADO, Bernardo Fonseca;  ESCOURA, Michele. Diferentes, não desiguais – a questão de gênero na escola. São Paulo, Editora Reviravolta, 2016.


     * Nanci da Silva Pereira, pedagoga pela PUC-SP, professora universitária, mestre em Psicologia em Educação pela PUC-SP; orientadora educacional e sexual.


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