08/11/2007 – Clipping Educacional

O Clipping Educacional do SINPEEM tem como finalidade
manter os profissionais de educação filiados ao sindicato informados
sobre as publicações diárias dos principais jornais impressos e sites
sobre a área de educação. Portanto, os textos apresentados
não expressam a opinião do SINPEEM.


FOLHA DE SÃO PAULO – 08/11/2007
Enade 2007 será aplicado no domingo para 262 mil estudantes

Os 262 mil estudantes convocados ao Enade 2007 (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) serão avaliados no próximo domingo (11). A prova será aplicada entre 13h e 17h -- os alunos devem chegar às 12h15, de acordo com o manual (em .pdf), para localizar a sala e assinar a lista de presença.

Os locais de prova podem ser conferidos pela
Internet. Para a consulta, o usuário deverá preencher obrigatoriamente cinco campos: Estado, município, situação acadêmica, instituição de ensino e área.

Para fazer o exame, o estudante deve levar documento de identidade original, comprovante de inscrição, dois lápis pretos, grafite nº 2, apontador, borracha e caneta esferográfica de tinta preta, e folha de respostas do questionário socioeconômico preenchido.

A prova tem 40 questões, sendo dez de avaliação da formação geral, comuns aos cursos de todas as áreas, e 30 questões específicas para cada área. Nas duas partes, as questões são discursivas e de múltipla escolha, envolvendo situações-problema e estudos de casos. O estudante deve preencher também um questionário de impressões sobre a prova.

Segundo o MEC, por estar centrado na trajetória e não no ponto de chegada, o Enade é composto por questões de baixa, média e alta complexidades, e contempla diferentes momentos da vida acadêmica do estudante. Por isso, o exame poderá ser respondido por ingressantes e concluintes.

O resultado individual do estudante será publicado a partir de 11 de dezembro.

Áreas de avaliação


Neste ano, o Enade avalia cursos das mesmas áreas examinadas em 2004: agronomia, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, serviço social, tecnologia em radiologia, tecnologia em agroindústria, terapia ocupacional e zootecnia.


Estão habilitados a fazer a prova os estudantes ingressantes e concluintes das áreas avaliadas. Ingressantes são aqueles que tiverem concluído entre 7% e 22% da carga horária mínima do currículo do curso, até o dia 1º de agosto de 2007. Concluintes são os que tiverem concluído pelo menos 80% da carga horária mínima do currículo do curso ou que estão em fase de conclusão do ano letivo de 2007.

O Enade faz parte do Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior) e seu objetivo não é dar nota ao aluno, mas avaliar a qualidade do ensino que está sendo oferecido a ele. Também compõem o Sinaes a Avaliação de Curso e a Avaliação Institucional.

O ESTADO DE SÃO PAULO – 08/11/2007
Mau desempenho de alunos leva SP a dar reforço de português e matemática 

Mais de 70% dos alunos de 4ª série não dominam operações matemáticas e 48,4% não sabem ler plenamente 

Renata Cafardo e Simone Iwasso 

Mais de 70% dos alunos de 4ª série do Estado de São Paulo não têm as competências básicas de matemática, como operações de soma, subtração, multiplicação e divisão. E ainda 48,4% deles não sabem ler e escrever plenamente. Estes são resultados preliminares e mais recentes do Saresp, avaliação externa feita pelo governo do Estado na rede de ensino. Diante dessa constatação, as escolas da rede estadual terão 45 dias de aulas focadas especificamente em português e matemática no início do ano que vem.

Será uma espécie de revisão intensiva do que deveria ter sido aprendido nos anos anteriores. O novo modelo será aplicado a alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental e do 1º ao 3º ano do ensino médio. As aulas começam no dia 18 de fevereiro, no início do ano letivo. Somente em abril, as escolas iniciarão o currículo convencional.

“Para aprender bem as outras disciplinas, os alunos precisam saber ler, escrever e fazer contas”, afirmou ao Estado a secretária estadual da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. Nesses primeiros 45 dias, aulas de português e matemática serão ministradas pelos professores dessas disciplinas e ainda farão parte das outras matérias.

“Os conceitos de leitura, por exemplo, serão dados em português. Em história, haverá a interpretação de texto histórico”, explica a assessora para avaliação e currículo da secretaria, Maria Inês Fini. Matemática aparecerá nas aulas de geografia com estudos sobre medições e espaços, por exemplo.

A carga horária nas escolas não mudará. Mas o currículo do restante do primeiro semestre será “acelerado”, de acordo com Maria Inês, em virtude da mudança. Além disso, os professores deverão seguir um material estruturado especificamente para isso, com as orientações sobre o que deverão ensinar aos estudantes no período. Eles deverão passar por uma capacitação antes do início do semestre.

O último Saresp foi feito em 2005 pelo Estado, que demorou para divulgar os resultados, em parte pela mudança de titulares da pasta. No ano passado, a prova foi cancelada e, neste mês, volta a ser aplicada aos alunos da rede.

No Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), também de 2005, os alunos paulistas fizeram 183 pontos (de um total de 500) em português. O resultado é um pouco superior à média do País, mas ainda inferior ao desempenho em anos anteriores.

CURRÍCULO

Outra mudança na rede paulista será a adoção de um currículo único que definirá, tanto no ensino fundamental quanto no médio, os conteúdos mínimos que devem ser ensinados em cada disciplina de cada série.

A definição de um currículo a ser elaborado por cada rede de ensino está prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), mas até hoje só havia sido feita por Minas Gerais. A rede municipal de São Paulo também terminou o seu programa neste ano e deverá implementá-lo no ensino fundamental a partir do ano que vem.

“A escola e o professor vão continuar com liberdade de escolher sua linha pedagógica, seus métodos de ensino, mas receberão um guia com uma abordagem focada nos conteúdos básicos de cada disciplina”, explicou a secretária. Segundo ela, os professores não são obrigados a cumprir o programa, mas saberão que o próximo Saresp vai cobrar os conteúdos estipulados nesse currículo.

3º ano terá cursinho e técnico 

A secretaria tem prontos dois projetos para o 3.º ano do ensino médio que deverão começar a partir do próximo semestre. O primeiro, chamado de apoio à continuidade dos estudos, será uma espécie de cursinho oferecida a todos os alunos da rede. Durante seis horas por semana, os estudantes terão uma revisão geral dos conteúdos administrados no ensino médio.

Outra ação prevê 50 mil vagas num telecurso técnico em três áreas de administração oferecido pelo Instituto Paula Souza, que cuida das escolas técnicas, em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Ainda não está definido como as vagas serão distribuídas. É provável que seja por ordem de inscrição ou sorteio.

REVISTA NOVA ESCOLA – 08/11/2007
Educação infantil municipal sofre com superlotação em São Paulo

Professores e especialistas discordam de números mínimos por turma estabelecidos em portaria da Secretaria Municipal de Educação

Gustavo Heidrich 

“Eu me sinto frustrada. Tenho alunos que sei que precisam de uma atenção diferenciada, de sentar e conversar, essas coisas. Mas como faço isso com uma sala com 35 crianças?”. O desabafo é da professora de uma Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) da região de Pirituba, que pede para não ser identificada. Ela diz representar outras colegas que não conseguem desempenhar bem sua profissão com salas lotadas de alunos. A educadora, que leciona para crianças de três a seis anos, faz um convite: “Eu gostaria que o secretário de Educação passasse um dia aqui acompanhando nosso trabalho. Só assim acho que ele entenderia que qualidade de ensino não é só aumentar os alunos ou as horas em sala de aula”.

A crítica se refere à
Portaria nº 4.922, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, publicada no último dia 20 de outubro. O documento estabelece o mínimo de 35 alunos nas turmas das Emeis (crianças de 3 a 5 anos) e de 18 alunos (por educador) nas turmas de primeiro estágio dos Centros de Educação Infantil (CEIs), creches da rede direta, indireta e particular conveniada.

NOVA ESCOLA ON-LINE consultou aleatoriamente 10 Emeis e 5 CEIs da rede municipal de ensino. No caso das Emeis, o número variou de 30 a 40 alunos por turma. Nas CEIs, que contam com pelo menos dois professores por sala, o mínimo foi de 18 e o máximo de 25 crianças por educador.

De acordo com a professora de Pirituba, a situação é mais crítica nas salas com crianças de três anos das Emeis. “São alunos que precisam de uma atenção especial. Ainda não sabem ir ao banheiro e ter os cuidados corretos de higiene sozinhos e precisam ser constantemente acompanhados em todas as atividades”, diz. Segundo ela, os espaços são pequenos, com poucos ambientes cobertos e as crianças muitas vezes acabam confinadas. “É exaustivo para nós, professoras, e para as próprias crianças. Não são raros casos de piolho e de
doenças respiratórias”, conta. A educadora diz ainda que algumas atividades em grupo, como pintura e leitura, ficam quase impraticáveis em turmas grandes e muitas professoras optam por excluí-las do planejamento.

“Nós tentamos pedir à coordenadoria regional que limitasse o número de alunos para um máximo de 30 por sala. Ouvimos a justificativa de que as crianças têm que aprender a viver em coletividade e não precisam de tanta atenção”, afirma a professora. De acordo com ela, numa das reuniões com a escola, a coordenadoria regional justificou que o número de 35 alunos é “bom” e que as turmas de primeiro estágio estavam “em vantagem com relação ao ensino fundamental, que tem até 50 alunos por sala”.
Entenda o problema. Até o fechamento desta reportagem, a Coordenadoria de Pirituba não respondeu ao pedido de entrevista feito por NOVA ESCOLA ON-LINE.

Padrões mínimos

Para a especialista em educação infantil e coordenadora de projetos do Instituto Avisa lá, Cisele Ortiz, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96) fundamenta a crítica à portaria paulistana. “A LDB fala de padrões mínimos de qualidade para o ensino e de uma relação adequada entre o número de alunos e o professor”, diz. Ela se refere ao artigo 25 e, especificamente ao artigo 4, parágrafo IX. A lei estabelece como dever do Estado garantir “padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem”.

Na opinião de Cisele, a quantidade mínima de crianças nas salas da rede municipal estabelecida pela portaria prejudica a qualidade do ensino e aprofunda as desigualdades entre alunos da rede pública e da rede particular. “Quando os professores de Educação Infantil trabalham com um número excessivo de crianças, a capacidade de construir vínculos saudáveis é afetada. Isso se reflete imediatamente na formação do aluno, que vai apresentar dificuldades no sono, na alimentação, na tirada das fraldas, no relacionamento com outras crianças e também nos aspectos de aprendizagem e de construção de conhecimentos”, acredita.

Ela concorda com a professora de Pirituba e diz que a situação é mais grave para os alunos de três meses a três anos. “Há muita pressão da sociedade civil para que o Estado cumpra seu papel e amplie a oferta de vagas nas escolas. Mas onde não há escolas em número suficiente para atender a demanda, é importante que as famílias conheçam seus direitos, se informem e fiquem atentas à qualidade da Educação. Expandir a qualquer custo, sem pensar na qualidade, produz o mal resultado que já conhecemos. Basta olhar o Ensino Fundamental”, critica.

Proporção ideal


Além da LDB, existe um conjunto de
normas oficiais que tratam dos espaços físicos e da relação adulto-criança nas salas de aula. As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Conselho Nacional de Educação definem como ideais as proporções de: um professor para seis a oito bebês de zero a dois anos; um professor para cada quinze crianças de três anos e um professor para cada vinte crianças de quatro a seis anos. Esses mesmos números estão relacionados nos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (Vol.1 e Vol.2) do MEC.

Para a ex-coordenadora geral de Educação Infantil do MEC, Karina Rizek, há um lado bom e outro ruim em colocar 35 alunos em uma sala de aula de Educação Infantil. “As EMEIs enfrentam um problema grande de espaço para a demanda de alunos. Se a secretaria estabelecer 20 crianças como número máximo, certamente excluirá crianças do sistema. Portanto, aumentar o número ajuda a resolver a questão do acesso, mas isso não pode anular a discussão da qualidade”. Para ela, cada turma de Educação Infantil deveria ter pelo menos dois professores e um assistente.

De acordo com a ex-coordenadora e atual formadora do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac), o amparo na legislação e as discussões sobre Educação Infantil evoluíram muito no País. “A Educação Infantil passou a ser um capítulo importante, mas poucos se dão conta das diferenças e especificidades em relação aos outros níveis de ensino”.

NOVA ESCOLA ON-LINE entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e foi informada que, por compromissos relacionados à realização da Prova São Paulo, o secretário municipal Alexandre Schneider não poderia conceder entrevista sobre o assunto até o fechamento desta reportagem.

REVISTA NOVA ESCOLA – 08/11/2007
A Educação, vista pelos olhos do professor

PAOLA GENTILE paola.gentile@abril.com.br

Colaborou PATRÍCIA CASSI

NOVA ESCOLA e Ibope entrevistaram professores de redes públicas de todo o país e concluíram: eles amam a profissão, mas só 21% estão satisfeitos com ela. E, apesar de classificarem a formação inicial como excelente, reconhecem não estar preparados para a realidade da sala de aula

53% expressam amor pela carreira
14% acreditam preparar o aluno para o futuro
21% estão satisfeitos com a profissão

Você conhece bem esta realidade: o professor adora a profissão, mas não está satisfeito com ela. Sabe que é parte de sua função preparar os alunos para um futuro melhor e gosta de ver as crianças aprendendo, porém se ressente por ter de providenciar a Educação global (valores, hábitos de higiene etc.) que a família não dá. NOVA ESCOLA e Ibope conversaram com 500 professores de redes públicas em todas as capitais brasileiras e os números são muito reveladores da situação em que se encontram nossos educadores.

53% têm no amor à profissão sua principal motivação.
63% trabalham no que gostam.
83% têm consciência da importância da profissão de professor.
80% já participaram de cursos de capacitação depois de formados.

Ao mesmo tempo, muitos se queixam do trabalho duro e (o pior) não reconhecido pela sociedade.

63% relatam viver em nível significativo de estresse.
48% sentem falta de mais segurança contra a violência.
54% estão descontentes com os benefícios, 47% com o salário e 47% com a sobreposição de papéis (em relação à família dos alunos).
21% estão satisfeitos com a profissão (um número assustador: em pesquisas similares, o índice oscila entre 40 e 60%, chegando a 80% em algumas áreas que podem ser chamadas de privilegiadas).

A pesquisa foi feita com o objetivo principal de investigar como os professores brasileiros se relacionam com o trabalho, os alunos e a escola e de que forma eles enxergam o futuro da profissão.Nesta reportagem, você vai encontrar diversos números – e também uma análise muito especial para refletir sobre alguns desses dados.Para debater os resultados obtidos, NOVA ESCOLA convidou um grupo de educadores de diferentes áreas, todos com contato direto com a sala de aula e com a formação inicial e continuada dos nossos docentes. São eles: Celso Favaretto, filósofo da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Lino de Macedo, pedagogo do Instituto de Psicologia da USP, Luis Carlos de Menezes, do Instituto de Física da USP, Maria Cristina Mantovanini, psicopedagoga do Instituto Vera Cruz, em São Paulo, Sônia Kruppa, socióloga da USP e da Fundação Santo André, Telma Weisz, especialista em Psicologia da Aprendizagem e assessora pedagógica da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, e Vera Trevisan, psicóloga da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Base frágil

As três maiores surpresas da pesquisa apareceram justamente nas questões sobre a relação do professor com seu público alvo e com o ambiente de trabalho.

Os alunos são vistos como desinteressados e indisciplinados e são percebidos, junto com a família, como os principais problemas da sala de aula. “Quando o profissional não se sente capaz de cumprir sua tarefa – no caso, planejar, ensinar e fazer com que a maioria adquira conhecimento –, tende a responsabilizar fatores externos, apontando justamente para os lados mais frágeis do sistema”, afirma Maria Cristina Mantovanini.

A formação inicial é apontada pela maioria como “excelente”. Mas, ao mesmo tempo, reconhecem não estarem preparados para o dia-a-dia dentro da sala de aula.“Como a relação entre a motivação e a prática de ensino quase não aparece, muitos provavelmente não se dão conta de como a graduação foi ineficiente”, observa Telma Weisz.

As secretarias (municipais e estaduais) de Educação e o Ministério da Educação praticamente não aparecem como atores importantes da realidade do Magistério.

É igualmente preocupante porque essas instituições deveriam ser as provedoras não só das políticas públicas, mas também de toda a infra-estrutura e das condições gerais para que a aprendizagem ocorra. “O professor não se enxerga como parte do sistema e, por isso, se sente tão sozinho na difícil tarefa de ensinar”, enfatiza Sônia Kruppa.

A PESQUISA

AMOSTRA - 500 professores das redes públicas municipais, estadual e federal
IDADE - de 25 a 55 anos
TÉCNICA DE PESQUISA  - entrevistas individuais, com questionário estruturado, realizadas de 20 de junho a 19 de julho de 2007

DISTRIBUIÇÃO REGIONAL:
50% Sudeste
21% Nordeste
11% Norte
10% Centro-Oeste
8% Sul

DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PELA EDUCAÇÃO RUIM?

Uma das perguntas do questionário tinha 23 itens. Entre eles, a falta de didática e de metas de aprendizagem. Mas, na hora de listar os principais problemas do dia-a-dia dentro da sala de aula, os 500 professores entrevistados colocaram os seguintes três: a não-participação dos pais no dia-a-dia da escola, a desmotivação dos alunos e a indisciplina dentro da classe (e o primeiro está fora da sala).

Por que a família é vista tão mal?

Ao comparar a escola pública com a particular, os professores dão algumas pistas: 72% dizem que quem leciona na rede pública faz também o papel de assistente social, enquanto apenas 3% apontam que quem está na privada tem essa mesma função (será mesmo?). O termo mais usado é sobreposição. Para

25% da amostra,“a escola está no lugar da família”. E outros 38% reforçam que, na escola pública,“o professor não ensina, mas ajuda o aluno a sobreviver”. Em outra resposta, 64% afirmam que o nível socioeconômico das crianças intervém no aprendizado (negativamente, no caso da pública, e positivamente, no caso da particular).

As causas do problema

“Durante décadas, o professor montou uma representação padrão de estudante, projetando o desejo de que ele venha de casa educado, com os parentes providenciando todos os requisitos básicos para que eles convivam em sociedade e aprendam.

Esse quadro não existe”, diz Lino de Macedo. Da mesma forma, é fictícia a concepção de família ideal.Pai e mãe trabalham fora e nem sempre moram na mesma casa – e os dois fatores levam à diminuição do tempo dedicado às crianças e, com isso, dos momentos de “formação doméstica”.

A tendência é fazer, inconscientemente, o que Luis Carlos de Menezes chama de enquadramento social: “A ampliação da escolarização no Brasil fez com que crianças e jovens de comunidades antes excluídas entrassem no sistema. Equivocadamente, o professor acha que a origem cultural do garoto e da mocinha os impede de aprender. Além disso, como não quer assumir a função de formá-los, ele desiste de ensinar”. Houve consenso entre os debatedores: não é a família que tem de ser responsabilizada pelo insucesso da garotada, mas a escola, que precisa rever sua missão e seu projeto pedagógico para atender a todos, com ou sem problemas socioeconômicos.

Além das transformações sociais, existem as culturais, políticas, econômicas e tecnológicas – que, de maneira geral, a escola não acompanha. Ao longo dos anos, a defasagem do currículo e dos conteúdos, a falta de relação com a realida de e uma série de outros fatores tiveram reflexos na não-aprendizagem. O professor acredita que sua responsabilidade sobre a Educação é muito grande, mas as notas ruins nos testes de avaliação levam a sociedade a repetir que o ensino vai mal.“Sentindo-se impotente, ele procura causas externas, criando uma situação que o prende: já que não pode mudar a família do aluno, ele acha que não é possível ensinar”, analisa a psicopedagoga Maria Cristina Mantovanini.

Os principais problemas da sala de aula

77% ausência dos pais
70% desmotivação dos alunos
69% indisciplina e falta de atenção

Para refletir

Sim, a participação da família é fundamental para que a criança se desenvolva
como estudante.Por isso, ela deve ser motivo de preocupação. “Não dá para correr atrás de resultados de ensino sem pensar em reeducar os pais, que não conhecem a proposta pedagógica da escola, o que ela oferece aos filhos e como eles aprendem”, diz Maria Cristina. Reuniões de pais e atividades conjuntas nos fins de semana podem ser planejadas especialmente para promover essa integração.

Uma saída é conscientizar-se de que o novo papel do professor inclui atender o aluno que não vem pronto de casa para adquirir conhecimento. Lino de Macedo acredita que, ao perceber que a sociedade mudou e que agora é preciso fazer isso, sem esquecer de ensinar conteúdos, você se preocupa também em dar o exemplo. Assim, a angústia diminui: “Com menos ressentimento, fica mais fácil aproximar-se, melhorar a relação com o estudante e, em conseqüência, as condições de aprendizagem”.

Em conjunto, redes de ensino, direção e corpo docente deveriam estar preocupados com a definição do currículo.“Ninguém vai se sentir motivado a conhecer algo que não tem relação nenhuma com a vida”, ressalta Menezes. “É necessário levar para a escola a cultura da comunidade e voltar a prática para a formação total do aluno. O que não dá é ficar esperando que ele saia correndo atrás dos conteúdos para dominá-los.”Outro caminho para diminuir a tal desmotivação é deixar de lado o vício pedagógico de buscar sempre a passividade do educando: “As crianças são curiosas por natureza e gostam de fazer perguntas, mas elas só aprendem se tiverem espaço para a participação. E isso existe quando há conversa, fala, movimentação e argumentação e não um ambiente de apatia”, ressalta Menezes (leia mais na coluna Pense Nisso, na página 90).

Nunca é demais lembrar que só consegue motivar quem conhece (e utiliza) boas práticas de ensino. Chegamos assim à segunda contradição apontada pela pesquisa: o professor acha que foi bem formado, mas acaba admitindo não estar preparado para o dia-a-dia em classe nem saber como enfrentar os problemas da sala de aula, como o famoso desinteresse e a não menos decantada indisciplina.

POR QUE A FORMAÇÃO NÃO PREPARA PARA O DIA-A-DIA?

A maioria dos entrevistados não tem dúvida: para 64%, a formação inicial foi excelente. Porém, 49% reconhecem que não estão preparados para a realidade da sala de aula. E isso porque 90% se declaram satisfeitos com a própria didática. Contraditório, não? O simples fato de freqüentar uma universidade e ter a chance de ler, estudar e debater as teses de grandes nomes da Pedagogia mundial é, sem dúvida, uma experiência interessante.

No entanto, é possível que muitos professores não questionem a qualidade desses cursos. Estudar as teorias de Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henri Wallon, entre muitos outros, é fundamental, mas não basta. A capacitação inicial tem variadas (e complexas) dimensões e a faculdade é o primeiro lugar para um profissional se apropriar das ferramentas para ensinar – e, com isso, poder enfrentar as dificuldades do dia-a-dia na escola (como a desmotivação, a indisciplina e as diferentes realidades sociais e culturais dos alunos). O que não dá é para não aceitar essa realidade.

As causas do problema

Só recentemente as faculdades de Educação e Pedagogia começaram a se preocupar com as especificidades da formação docente. Por muitos anos, tanto os futuros professores como os futuros diretores, orientadores e supervisores recebiam os mesmos conteúdos.

Os especialistas reunidos por NOVA ESCOLA concordam: as didáticas específicas de cada área deveriam ser a principal matéria-prima dos cursos de formação inicial. O currículo deveria ter por obrigação contemplar a didática da alfabetização, a da Matemática, a da leitura e da escrita, a das Ciências e assim por diante. Dentro de cada uma delas estariam os conteúdos, os processos de aprendizagem (que envolvem o conhecimento sobre como as crianças transformam informação em saber e o que elas pensam quando estão em contato com os problemas escolares) e, claro, as intervenções pedagógicas mais adequadas para garantir que todos aprendam.

“Sem explorar e ensinar corretamente as didáticas específicas, é como se as faculdades colocassem um lenço nos olhos e vendassem o futuro professor e o soltassem no mundo. É óbvio que, nessa situação, não dá para saber o que fazer”, afirma Telma Weisz.Na opinião de Regina Scarpa, só a certeza de dominar os conteúdos e as melhores maneiras de ensina-los fará com que o educador enfrente com tranqüilidade a dura realidade da sala de aula: “Toda criança gosta de aprender de maneira desafiadora”.

O problema persiste quando os cursos de capacitação continuada, em vez de oferecerem atualização nas áreas específicas, tentam suprir as deficiências da faculdade.
Segundo a pesquisa, 48% dos entrevistados acreditam que esses programas interferem positivamente no ensino e o surpreendente índice de 80% disse já ter participado de algum curso desse tipo. Mas nem por isso se sentem mais preparados para a rotina escolar.“A maioria dos cursos de formação continuada não leva em conta as necessidades cotidianas do professor.

É por isso que fica a sensação de que nada se resolve depois de freqüenta-los”, analisa Vera Trevisan.

Para refletir

A mudança de foco dos cursos de formação inicial é um processo longo, mas nem por isso pode ser esquecida pela categoria.Num prazo menor, dizem os analistas, o ideal é apoiar-se mais fortemente na coordenação pedagógica. Os próprios entrevistados começam a perceber isso: 21% acreditam que a coordenação colabora muito, e 42%, o suficiente para melhorar o ensino. Porém, 34% ainda se sentem desamparados, dizendo ter pouco ou nenhum apoio.“ Já passou da hora de os coordenadores pedagógicos assumirem sua responsabilidade pela qualidade do ensino na escola. Eles precisam se colocar no papel de formadores do corpo docente”, exige Regina Scarpa.

Organizar momentos de formação em serviço (nos horários de trabalho pedagógico coletivo), com troca de experiências e reflexão sobre a prática, é muito eficiente para resolver problemas cotidianos.

A formação de grupos de trabalho preocupados em melhorar as ações em sala de aula é viável e necessária. Já para aperfeiçoar os cursos de formação continuada, uma saída é chamar os alunos em potencial para ajudar na elaboração do programa, pois só eles conseguem expor suas necessidades. Vera Trevisan alerta ainda para a importância de haver uma pessoa que coordene essa formação, principalmente quando um pequeno grupo é convidado a participar – para depois socializar o aprendizado com os colegas.

Infelizmente, quem está à frente da sala de aula não tem poder sobre as políticas públicas e a definição de rumos da Educação – nos sistemas municipais, estaduais e federal. O problema, como veremos a seguir, é que essas entidades estão cada vez mais distantes do discurso do professorado brasileiro.

Aprender para ensinar

64% avaliam a formação inicial que tiveram como excelente ou muito boa
49% admitem que a formação os preparou pouco para a realidade da sala de aula
80% já participaram de algum curso de formação continuada
90% estão satisfeitos com a própria didática

CADÊ O ESTADO? NINGUÉM SABE, NINGUÉM VIU...

As pesquisas revelam muitas informações pelo que é dito, mas também pelo não dito.Um dos tópicos que mais chamaram a atenção dos analistas foi a ausência do Estado (Ministério e secretarias estaduais e municipais) quando o assunto é qualidade do ensino e quem é responsável por isso. Ele só aparece enquanto empregador (aquele que paga salário e benefícios e proporciona estabilidade no emprego e liberdade de ação em sala de aula – o que significa não cobrar resultados). O curioso é que os entrevistados não vêem no poder público o papel de elaborar as políticas e de providenciar a estrutura necessária para o processo de ensino e aprendizagem.

No ranking sobre as influências negativas no ensino – o mesmo em que alunos e famílias surgem nas primeiras posições –, os itens associados ao orçamento e às diretrizes da Educação são citados nas últimas colocações.

“Ao responsabilizar os alunos e as famílias pelo fracasso escolar, o educador deixa de analisar o papel da escola e as possibilidades que ele tem de agir como o agente público que de fato é, como membro de uma instituição igualmente pública – a escola – que precisa se relacionar com o sistema para funcionar com eficiência”, analisa Sônia Kruppa.

As causas do problema

“O docente simplesmente não enxerga o Estado porque ele é omisso em vários aspectos da vida dele”, ressalta Luis Carlos de Menezes.O sistema não é cobrado pelas deficiências e também não aparece quando uma experiência dá certo: “Se a escola vai bem, o mérito é de uns poucos mestres dedicados ou da direção eficiente”.

Nem é preciso lembrar que sucessos isolados não levam à melhoria da Educação como um todo.

O filósofo Celso Favaretto acredita que a escola perdeu a confiança nela mesma e, com isso, deixou de se posicionar como instituição: “Ao perder a exclusividade de divulgadora do conhecimento – papel que hoje compartilha com os meios de comunicação –, ela não consegue mais enxergar sua missão original, que é debater e realizar o bem comum e as políticas sociais, culturais e educacionais”.

O professor também entra nesse compasso e cada vez mais se sente à parte, isolado. Sônia Kruppa acredita que essa ruptura tem origem no que ela chama de falta de vínculo: todos os anos há mudanças no quadro docente e fica difícil organizar e implantar um projeto em conjunto.

Ao ser removido, o professor não se sente pertencente nem à escola e à comunidade nem à instituição e ao sistema.

Para refletir

A Educação é um processo coletivo, que se dá em determinado espaço, uma instituição chamada escola. Essa, por sua vez, é regida por políticas públicas, que deveriam ter como objetivo a realização do bem comum para responder às demandas imediatas e as de longo prazo da sociedade.“A relação educacional não se resume ao dueto professor/aluno”, lembra Vera Trevisan. Existem ainda os agentes de ensino das secretarias, o diretor, o coordenador pedagógico e todos os colegas.“

Como o professor pode se sentir sozinho e tomar para si toda a responsabilidade?”, questiona ela.

Para Sônia Kruppa, só o grupo pode assumir a formação do educando e, para

que esse coletivo se forme, é preciso haver permanência na escola e continuidade nas políticas públicas.Com isso, ela acredita ser possível a comunidade construir um projeto pedagógico democrático para atender à população tal qual ela é.

PROTAGONISTAS DO PROCESSO

Um sistema educativo deve ser entendido como a articulação de três subsistemas: o escolar (a escola e todas as instâncias envolvidas com ela), o sociocultural (espaços como bibliotecas, ludotecas, cinemas, teatros etc.) e o familiar (que tem o dever de valorizar os outros dois e propiciar o acesso a eles).

Essa tríplice aliança é a chave do sucesso da rede de ensino da Finlândia, primeira colocada nas principais avaliações internacionais.

“Mesmo com todas as deficiências apontadas, o subsistema escolar brasileiro tem as condições necessárias para proporcionar as experiências educacionais e culturais de que as crianças necessitam.

Por isso, é muito bom observar que, na pesquisa, 83% dos professores se vêem como protagonistas desse processo”, afirma Regina Scarpa.

A “desistência”da escola, enquanto instituição, e o desânimo do professor poderiam significar um desastre a longo prazo. Com a divulgação (e análise) desses números, NOVA ESCOLA acredita estar contribuindo para uma reflexão coletiva que aponte caminhos para melhorar ainda mais a Educação, em especial na rede pública de nosso país.

Onde estamos, para onde vamos

23% acham a educação no Brasil ruim ou péssima
33% acreditam que daqui a dez anos a educação continuará ruim

O que se espera do governo nos próximos dez anos

8% maior participação
9% diminuição das verbas públicas

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