27/02, 05/03 e 19/03/2016 - Curso presencial: ler para crer e escrever sua própria história - Ana Paula Dini

     A literatura está, ou deveria estar, por toda parte. Desde tempos imemoráveis histórias são contadas. Histórias que falam sobre o surgimento do mundo, como nasceram os homens, de onde viemos, para onde vamos... as histórias assinalam as normas, organizam costumes, nos garantem à transcendência e ainda, dão sentido à vida. É sabido que, no princípio, as histórias eram contadas oralmente e, mais tarde, foram adquirindo a forma escrita. Oral ou escrita, a palavra, por meio das histórias, se torna literatura.

     Dados estatísticos da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2012, revelam que a literatura tem sido desmerecida e que os brasileiros leem em média quatro livros por ano. Se contarmos os livros lidos por inteiro, o número cai para dois, por brasileiro. As pessoas que se dizem leitoras o são pela necessidade de se atualizarem; a leitura não é mais uma forma comum de lazer e se, um dia, ela levou à morte Emma Bovary, no clássico romance de Gustavo Flaubert, Madame Bovary, 1857, hoje não causa disposição, tampouco ilusão aos jovens de ascenderem culturalmente ou socialmente a partir dela. 

     Hoje, a linguagem rápida das redes sociais, ou mesmo os resumos literários lançados pela Internet colaboram para que os jovens não dediquem tempo nem concentração para a leitura de livros literários, principalmente os impressos. O próprio material didático apresenta um condensamento de textos literários, trazendo trechos de livros que poderiam estar sendo lidos na íntegra. Há, portanto, um estreitamento do espaço da literatura na sociedade e também, na escola.  

     Não é questão de fazer apologia à literatura, mas é, sim, colocá-la em um lugar diferente da leitura de textos informativos ou mesmo, de textos didáticos. A distinção se justifica quando se estabelece os objetivos de leitura. Temos, para a leitura literária palavras que são chave e que definem seu propósito, são elas: imaginário / interpretação, subjetividade/singularidade, desejo / emoção/ prazer, desafio / energia / mediação, ludicidade / sedução, liberdade/ criatividade / fluência, enquanto que para a leitura informativa: investigação / compreensão, objetividade almejada / instrumentalização, reflexão / raciocínio / argumentação, desafio / energia / criatividade, crítica / opinião, atenção / concentração /precisão definem seu objetivo. A organização das palavras-chave nos situa na real dimensão do trabalho com a literatura e nos faz crer que é a partir dela, e somente dela, que algumas conquistas emancipadoras e humanizadoras poderão ser alcançadas. 

     Estudar as palavras-chave, colocando-as lado a lado com textos literários significativos que contemplem tanto a linguagem verbal (oral e escrita) como também, a não verbal, construindo uma trajetória formativa para com os profissionais da educação, buscando romper com alguns paradigmas que trazemos da nossa formação, como a crença de que é preciso desenvolver no aluno o hábito da leitura; ler é prazeroso e ainda, quem não escreve bem é porque não é um bom leitor serão de suma importância para refletirmos sobre o que é ser um bom leitor e como esse se constitui.

     A formação de um bom leitor é única e, por mais que seja estimulada, incentivada, ela só pode ser mediada, verdadeiramente, por nossas próprias experiências, como nos diz Larrosa: “A experiência é sempre do singular, não do individual ou do particular, mas do singular. E o singular é precisamente aquilo do que não pode haver ciência, mas sim paixão”. Portanto, descobrir a paixão literária que existe em cada educador, descobrir a leitura, a história que nos faz levantar os olhos e perceber o mundo à nossa volta de modo diferente é imprescindível para que nos tornemos formadores de leitores.

 
BIBLIOGRAFIA

BELINTANE, Claudemir. Oralidade e alfabetização: uma nova abordagem da alfabetização e do letramento. São Paulo: Ed. Cortez, 2013

COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. São Paulo: Contexto, 2014.

FREIRE, P. A importância do ato de ler: Em três artigos que se completam. 45. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

KISHIMOTO, T. M. (Org.) O brincar e suas teorias. São Paulo: Cengage Learning, 1998.

LARROSA, J. Tremores: escritos sobre experiência. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. 

SEMEGHINI-SIQUEIRA, I. Recursos educacionais apropriados para recuperação lúdica do processo de letramento emergente. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v.92, n. 230, p. 148-164, jan.-abr. 2011.

TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. São Paulo: Difel, 2009. 


* Ana Paula Dini, doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (Feusp), mestre em  Educação pela Feusp,
graduada em Língua e Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (FFLCH).


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