20 e 22/09/2017 - Curso de formação sindical - Bernadete Aparecida Caprioglio de Castro

Saberes escolares: o singular, o particular e o universal 

     A partir dos séculos XVIII e XIX houve grande transformação das ideias e da cultura ocidental na direção da secularização do pensamento, distintos dos antigos valores, relacionados com a explicação do mundo sob a ótica divina.  A vida social passou a ser pensada sob os princípios universais e abstratos, centrados no direito positivo, nas instituições políticas e no Estado. 

     A formação do Estado nacional laico, de uma língua nacional, da explicação científica sistematizada, da exploração do trabalho pelo capital, transportou as relações sociais para o plano das determinações econômicas e da luta de classes. 

     A filosofia iluminista difundiu a libertação do indivíduo dos laços das sociedades medievais, imprimindo a noção de igualdade e direitos políticos que proclamavam uma liberdade com base na individualidade – a do cidadão. Mas o cidadão não é um sujeito abstrato, e sim concreto, particular e com qualidades específicas. Por exemplo, a sociedade de consumo é algo universal onde as particularidades das classes sociais, etnias, gênero se colocam. 

     O modo de ver e pensar o mundo corresponde a uma relação com valores, que depende da posição que se ocupa na estrutura social. Essa diversidade constitui o modo pelo qual os sujeitos ou segmentos da sociedade executam suas ações, exteriorizando diferentes maneiras de conceber a vida em sociedade. 

     A pluralidade dos grupos humanos e a diversidade cultural se opuseram à homogeneização da vida social, abrindo caminho à expressão do particular, do diferente, do outro. As singularidades emergiram como reivindicações dentro do cenário da modernidade, passando a exigir a articulação entre produção do conhecimento, direitos sociais e processo educativo. 

     Os saberes, portanto, são múltiplos, se constituem na relação com o outro e com a natureza, com referências éticas e estéticas diversas. A escola é o locus privilegiado de uma situação de conhecimento, de uma relação social entre muitos outros diferentes e que se complementam em muitos objetivos comuns. 

     Todos têm saber a partir de suas práticas distintas, da vivência e experiência de mundo materializadas nas diferentes formas de trabalho que constituem os saberes escolares que, com suas especificidades, formam uma cultura escolar.


     * Bernadete Aparecida Caprioglio de Castro, professora de Antropologia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Rio Claro), Graduada em Ciências Sociais e em Licenciatura em História, mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, docente do programa de pós-graduação em Geografia/Unesp/IGCE-Rio Claro e docente do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe/Unesp/Ippri
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