Educação não é ficção global. Exigimos respeito!

     Nestes tristes tempos da política nacional em que os direitos dos trabalhadores estão sob ameaça constante e os servidores públicos acusados de serem responsáveis por custos insuportáveis para a Previdência, por exemplo, ou tachados de inimigos do equilíbrio fiscal e de obstáculos para a retomada do investimento estatal, é muito importante não dar margem para que uma novela coloque a população contra os professores.

     Pois a novela “O Tempo Não Para”, da Rede Globo, fez neste sábado uma crítica à situação do ensino público no país. Em uma cena do capítulo que foi ao ar neste 1º de setembro, Marocas e Miss Celine, duas das personagens que ficaram congeladas por mais de cem anos e agora tentam se adaptar aos tempos atuais, tomam um choque de realidade ao conhecerem uma escola pública municipal.

     A cena da ficção, porém, incomodou por conta da crítica genérica ao sistema educacional, que pode ser interpretada como um ataque ao funcionalismo de modo geral, atingindo todos os servidores públicos e mais especificamente os professores e profissionais de ensino.

     Na escola fictícia visitada na Freguesia do Ó, as personagens se impressionam com os alunos fora da sala de aula e são informadas que isso se deve a uma greve dos professores, que reivindicam aumento de salário.

     Há uma fala direta da principal personagem da novela sobre a necessidade de um salário digno para o professor, valorizando-nos, além de toda a sequência da cena apontar o sucateamento do ensino e a falta de estrutura para a Educação. Mas, não foram poucos os que viram na cena a intenção de dizer que os problemas são causados ou agravados pelos servidores públicos, e que a greve prejudica os alunos.

     Ainda que alguém da emissora venha a dizer que este não seja o objetivo da mensagem, é preciso cuidados para não eleger como culpados os que são vítimas de políticas erráticas de estado para a educação e seus profissionais.

     A crítica necessária, que nos une, é contra as condições aviltantes da educação, Brasil afora. Afinal, temos escolas que nem sequer possuem banheiros para alunos e professores, instalações precárias, falta de material didático, nenhum recurso tecnológico em um mundo informatizado. Professores, bem como pessoal de apoio e gestores desvalorizados, em ambientes que adoecem. É isso que a Globo pode nos ajudar a denunciar.

     Precisamos refletir e debater com seriedade sobre a crise crônica da educação nacional, lutar contra a ignorância do povo e impedir o linchamento da dignidade e da honra de uma profissão tão essencial para o futuro que desejamos para o Brasil.

     A desinformação, ao contrário, talvez seja mais um estímulo desencadeador para professores sofrerem agressões (até mesmo fisicamente) nos vários cantos do país, responsabilizados e punidos injustamente pela indigência do sistema educacional brasileiro.

     Este deveria, a nosso ver, ser o alerta da Globo, seja em suas novelas, telejornais ou em toda a sua programação. É isso que os meios de comunicação de massa podem fazer para nos ajudar a formar e bem informar.

     Que nos ajudem a educar o brasileiro e sinalizar para um Brasil melhor, mais tolerante, mais justo, mais digno e mais humano. Que descongelem corações e mentes. Porque, assim como na ficção, também aqui no mundo real o tempo não para.

CLAUDIO FONSECA
Presidente
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