Escola: um ambiente educacional ou profissional?

Há cerca de uma década, as escolas públicas da periferia paulistana têm sido meu ambiente como educador, nas quais vivenciei alguns “entraves pedagógicos” que me despertaram a atenção, como a indisciplina, alfabetização precária e desinteresse dos educandos.

De plano, gostaria de enfatizar que não sou defensor cego da política educacional regida por nossos últimos governantes, porém, devo ressaltar minha preocupação quanto à forma que alguns educadores - infelizmente a grande maioria - apreciam algumas ações propostas pelas instituições oficiais de ensino, tanto no âmbito Municipal, como no Estadual de São Paulo.

Ao meu ver, enquanto professor, temos que fluir por duas vertentes inteiramente distintas e fundamentais dentro da educação pública: o funcionário do magistério e o professor educador.

Certamente, a classe do professorado merece uma maior atenção por parte dos políticos de nosso País.

No que diz respeito às condições de trabalhos e questões salariais temos muito a conquistar e somente com o engajamento de todos conseguiremos fazer com que nossas reivindicações -que há tempos se fazem necessárias – sejam finalmente atendidas.

Eis aqui o trabalho do professor enquanto funcionário público. Debatendo com a classe, questionando as autoridades e politizando o meio em que vive. Tornando-se aptos aos possíveis progressos de nossa carreira.

Todavia, o que me preocupa é a ausência do professor educador em nossas unidades educacionais.

Professores que sonham com o aluno de três décadas atrás; aquele que se levantava quando alguém adentrava a sala de aula; o aluno que pertencia a uma família estruturada; a menina que não ia à escola de chinelos de dedo; o garoto que tinha em seu lar um pai sempre diante de um trabalho honesto; aquele em que a mãe o esperava em casa para acompanhá-lo em seus deveres; o aluno do passado...

Estamos no terceiro milênio, tempos difíceis, a violência impera em nossas ruas e lares, os valores éticos estão em profunda decadência, trabalhar de maneira digna já não é motivo de orgulho, o adolescente desempregado de carro novo é o “esperto”; o pai de família dentro de um trem lotado é “otário”; os valores inverteram-se.

Por que insistimos em nos enganar? Por que continuamos tendo a ilusão que nossos alunos não vivem esta realidade nua e cruel? O que ganhamos quando nos escondemos destes fatos?

O professor educador, quando está diante de seus discípulos, deve esquecer o final do mês. Os equipamentos que faltam devem ser substituídos pela criatividade, o fardo de duas ou três jornadas deve ser compensado por aquela criança carente de conhecimento que pela primeira vez veio tirar suas dúvidas.

Quanto às propostas das diretorias e coordenadorias de ensino - antes de criticá-las precocemente - por que não colocá-las em pauta, apreciá-las junto aos gestores e a comunidade?

O que presencio é um “não” veemente ou então a célebre afirmação: “Estão dizendo que não sabemos trabalhar; que a culpa é sempre do professor...”.

Será que há espaço para a pretensão de sermos sempre perfeitos? Estamos definitivamente pactuados com a excelência? Tudo é justificado pelos baixos salários e falta de materiais pedagógicos? Será que no dia em que tivermos rendimentos suíços e “laptops” para todos os educandos, o nível educacional brasileiro melhorará?

Reitero, não quero através de minhas palavras colocar os educadores no banco dos réus, nem tão pouco vislumbrar as atitudes governistas como sublimes e divinas.

Com ênfase, tenho dificuldade em compreender por que algumas escolas conseguem alfabetizar a maioria dos alunos na 1ª série e outras não; como se explicam diferentes índices de evasão escolar em escolas tão próximas; o que levam as comunidades a participarem ativamente de algumas unidades educacionais; o que influencia alguns educadores em proporcionar aos seus pupilos atividades diferenciadas?

O que me deixa perplexo é saber que tais disparidades acontecem em escolas da mesma região, com pessoas de mesmo perfil sócio-econômico e, o mais importante, sob o olhar de professores estaduais e municipais, ou seja, empregados dos mesmos órgãos públicos.

Cabe a nós, educadores, ou simplesmente meros funcionários da educação, sairmos do pedestal, ultrapassarmos esta imensa redoma de vidro e realizarmos algo para fazer da educação brasileira um motivo de orgulho nacional.

* Alexandre Gilsogamo é professor da Emef Armando Cridey Righetti e da EE Mário Kozel Filho (e-mail educalexandre@yahoo.com.br)

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