14/10/2010 – CLIPPING EDUCACIONAL

NOTÍCIAS – FIQUE POR DENTRO

NOTÍCIA - 14/10/2010 - JOINVILLE (SC)
Profissão professor 

Quem quer ser professor? Alguns poucos. Como demonstrou este jornal em reportagem no dia 27/7, existe um déficit enorme de professores de física, matemática e química, isto só para citar as áreas mais carentes. Paradoxalmente, existe gente formada nestas áreas, mas acabam buscando outros meios de sobrevivência que não seja a sala de aula, até porque não basta ter paixão, não basta ter “cheiro de aluno” ou vocação. A educação não é um sacerdócio, é uma profissão como tantas outras. É por meio dela que sobrevivemos, que buscamos ter acesso a determinados bens de consumo que só se faz com poder de compra. E é neste aspecto que a profissão de mestre seduz tão pouco.
Como professor das séries finais do ensino médio, tenho percebido que os estudantes querem ser médicos, advogados, engenheiros, administradores ou qualquer outra profissão que não seja professor. A postura pragmática adotada diante desta recusa é sempre a questão econômica. Não é segredo para eles que professor neste País é mal remunerado. Muitas vezes não consegue sequer comprar livros para se atualizar porque não sobra dinheiro no final do mês.


Os discursos institucionais falam o tempo todo na questão da qualidade sem uma mensuração real de que ela também passa pela questão econômica. Já há algum tempo venho adotando a tese de que os melhores quadros das universidades brasileiras, as melhores cabeças acabam sendo atraídas para outras áreas do conhecimento porque não existe incentivo financeiro para irem para uma sala de aula. Enquanto isto, há exceções, este espaço vai  sendo destinado cada vez mais a profissionais pouco qualificados que conseguem diplomas em faculdades mercenárias que surgem aos borbotões em cada esquina.


A educação está sempre no centro dos discursos como a panaceia que salvará o País. A pensar no investimento financeiro que nela se faz comparado a outros países, é no mínimo vergonhoso. Fazer resmungos às vésperas de um dia comemorativo nem sempre é oportuno na fantástica era dos cosméticos que a tudo transforma em beleza. É preciso desconfiar sempre, ter sob suspeita as cifras e os índices que maquiam a realidade. Urge colocar em xeque os vários discursos instituintes sobre a educação.

IZAIAS DE SOUZA FREIRE


FOLHA ONLINE - 14/10/2010
O dia mais importante do Brasil 

Gilberto Dimenstein

Comemora-se nesta semana o dia do professor. Esse deveria ser o dia mais importante da nação pela simples razão de que sem bons professores a democracia sempre será precária e a chance de crescimento econômico e distribuição de renda, precária. Em síntese, não há nação civilizada sem boa escola pública. Daí que um dos grandes desafios brasileiros é atrair talentos para a função de magistério, especialmente nas escolas públicas. O que significa, antes de mais nada, um salário inicial sedutor, boas condições de trabalho, treinamento constante e reconhecimento do mérito. As faculdades que formam professores terão de mudar para ser focadas mais na prática do que na teoria.

Atualmente, pouca coisa atrai: a violência é cotidiana, a infraestrutura, precária, os salários são baixos. Não é à toa que tantos professores ficam doentes. Não é possível ensinar direito com tantos alunos por sala de aula. E sempre que outros níveis de governo atuem na escola - saúde e assistência social. Por causa disso, olho com desconfiança aos governos, que não investem na educação com deveriam. E também olho com desconfiança muitas reivindicações corporativas, que colocam interesses da categoria acima dos interesses dos alunos. Não podemos deixar o tema da educação nas mãos dos governantes e dos sindicatos. A boa novidade, como está mostrando essa eleição, é que o pais está cada vez mais interessado em saber o que ocorre na sala de aula. Por isso, o Dia do Professor deveria ser o dia mais importante do país.
 

 

PORTAL UOL EDUCAÇÃO – 13/10/2010 
Brasil investe só 1/5 do aplicado em educação por países da OCDE

Da redação em São Paulo  

O Brasil investiu somente cerca de 1/5 do aplicado por países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no ensino fundamental. A conclusão é do estudo Education At A Glance 2010. Segundo a publicação, o Brasil investe, em média, US$ 19.516 por estudante do fundamental em todo o ciclo, contra US$ 94.589 (em média) dos países membros da OCDE. Fazem parte da organização países da Europa, Estados Unidos, Chile, México e Japão. O ano utilizado como base é 2007. Os números levam em conta salários de professores, capacitações de aprendizagem, materiais e instalações de ensino e o número de estudantes matriculados no sistema educacional.

Entretanto, a organização diz no estudo, publicado em setembro, que o Brasil está entre os seis países onde mais houve crescimento no que diz respeito a investimentos na área. Em 2007, ano utilizado como base para os comparativos econômicos, o que foi alocado para a educação correspondeu a 16,1% dos investimentos públicos sociais, em todos os níveis de ensino combinados. Entre 2000 e 2007, afirma a OCDE, houve um aumento de 66% neste percentual. Além do Brasil, estão na lista Chile, Dinamarca, Holanda, Eslováquia e Suécia. Em 2007, segundo a organização, o país investiu 5,2% do PIB em todos os níveis de ensino combinados.


NOTÍCIA - 13/10/2010 - JOINVILLE (SC)
 
Professores: hora de reflexão 

Como não poderia deixar de ser, na condição de profissional da educação, também não poderia deixar de falar sobre o dia do mestre, do professor, a ser celebrado nesta sexta-feira, 15 de outubro. Porém, antes de emitir algum comentário, me vem à mente a história do viajante no tempo. Paulo (nome fictício), morador do século 1 a.C., conseguiu desenvolver uma engenhoca e a batizou de “a máquina da viagem no tempo”. Como era muito curioso, resolver dar uma esticadinha até os nossos dias. Quando aqui chegou, foi ciceroneado por um dos nossos conterrâneos para lhe mostrar a cidade. No primeiro instante, quase foi atropelado. Perguntou ao seu guia o que era aquilo, e ele lhe respondeu: uma motocicleta. Paulo, o viajante do tempo, disse que na sua época utilizavam cavalos e comentou: “Vocês evoluíram muito”.

Continuando seu passeio pelas ruas da cidade, se deparou com uma enorme estrutura e perguntou ao seu cicerone do que se tratava. Este lhe respondeu: “É um prédio, um edifício”. Quis imediatamente saber para que servia tal invento, e seu acompanhante lhe informou que tinha como finalidade servir de moradia ou local de trabalho. Paulo, o viajante, disse que na sua época as pessoas moravam em estruturas que tinham somente um andar e aquele tinha 18. E comentou: “Vocês evoluíram muito”. Mais adiante o viajante do tempo foi arremessado por uma máquina superveloz. Ainda sentado ao chão, quis saber o nome daquele monstro. O guia lhe disse: “É um automóvel e serve para transportar pessoas”. Nosso protagonista disse que na sua época seus automóveis eram tracionados por cavalos e se chamavam carroças. Mais uma vez, o comentário foi: “Vocês evoluíram muito”.

Após alguns passos, um enorme lugar lhe chamou atenção. Adentrou e começou a circular por entre seus corredores. Viu pessoas sentadas em cadeiras enfileiradas, com um quadro verde  na parede da frente, e um homem ditando palavras com um livro na mão. Foi a vez de o viajante dizer: “Este lugar eu conheço. É uma escola. E complementou: igualzinha à da minha época. É, caro amigo, neste quesito vocês não evoluíram muito”. Caros colegas: pó de giz, quadro- negro e saliva já não têm mais lugar na educação. Às vezes sinto que ainda estamos na época do nosso viajante do tempo que serviu de exemplo neste texto. Sinto que nossa classe é muito resistente às mudanças e especialmente ao computador. Ainda existem professores que não conseguem trabalhar com esta ferramenta e insistem em dizer que não precisam aprender. A geração virtual, esta que está nascendo, especialmente na última década, esta há anos-luz na frente de muitos professores. A revolução na educação já começou e, se não aceitarmos, estaremos fadados ao fracasso. É hora de refletir.

ALFREDO LEONARDO PENZ
 


A NOTÍCIA - 13/10/2010 - JOINVILLE (SC)
 
Professor deletado

Uma parcela cada vez maior de crianças e adolescentes se mostra incapaz de manter a concentração por (nem tão) longos períodos de tempo. Qualquer atividade que se prolongue por mais do que alguns minutos começa a parecer uma tortura para essa nova geração de jovens agitados e ansiosos. Qual será o motivo de tamanha impaciência? Bem, esses adolescentes são pertencentes à chamada geração Z (isso mesmo, a Y já passou!), nascidos a partir da década de 1990. Concebidos com celular no berço e acesso ilimitado à internet, esses jovens demonstram fortes traços de inquietação e estão habituados a fazer múltiplas tarefas simultaneamente.

Pobres de nós, professores, vindos de uma época em que as coisas ocorriam de forma muito mais lenta e linear. Eu ainda me considero privilegiado: conheci o Nintendinho e o Megra Drive, me acostumei a navegar na internet ainda na adolescência. Que dizer das pessoas que são da geração X, que viram o videocassete e o walkman surgirem como grandes novidades!

De qualquer forma, professores de todas as idades estão sentindo com a mesma intensidade as implicações negativas que a assim dita “revolução digital” teve sobre formação cognitiva dessa geração. Acostumadas a ter o controle quase absoluto sobre a forma, o tempo e o momento em que as informações chegam, muitos deles se sentem no direito permanente de escolher o que mais lhe interessa “assistir”. Esses novos alunos, desde muito pequenos estimulados por uma infinidade de jogos eletrônicos com fortíssimo apelo visual, se veem muitas vezes na sala com uma vontade incontrolável de “trocar o canal”. Na impossibilidade de fazê-lo, ocupam-se com outra atividade, em plena aula, para prejuízo da sua própria formação. O professor se sente “deletado” por uma classe dispersa e agitada. É necessário que professores dessa nova geração busquem dinamizar ao máximo sua abordagem pedagógica, compreendendo que o aluno não tolera mais longas extensões de tempo em um mesmo assunto ou atividade. Utilizar a linguagem do aluno, pelo emprego da tecnologia como complemento à tradicional leitura e escrita. E, principalmente, entender que aquela classe silenciosa, comportada e atenta não existe mais.

DIEGO CALEGARI
 


DIÁRIO CATARINENSE - 13/10/2010 - FLORIANÓPOLIS (SC)

Quem disse?


Lourival José Martins Filho

Quem disse que uma aula tem que ser um tédio, verbalismo puro, sem vida, onde o docente não é capaz de descer do seu pedestal? Uma boa aula não nasce quando o professor abre a porta de sua sala. Uma boa aula é preparada com muito carinho, considerando que nossas crianças, jovens e adultos são seres da pergunta. Frequentemente, nós somos bombardeados por informações que falam do desinteresse dos alunos pelo processo de aprender. Sempre me pergunto se nós, professores, aguentaríamos muito tempo, silenciosamente, como queremos que nossos alunos façam, a qualidade das aulas que oferecemos. As crianças contemporâneas percebem, com rapidez e facilidade, quando seus docentes não desejam fazer o que fazem. O que esperar de um docente que não se vê como alguém capaz de compartilhar saberes. O que esperar de um educador que não gosta de cheiro de gente, a quem o barulho das carteiras irrita e que não vê a hora de voltar para casa. Precisamos, urgentemente, de professores que saibam definir com intencionalidade aonde desejam chegar com seus alunos. É desastroso perceber, em algumas escolas, crianças no final do ensino fundamental sem estarem alfabetizadas. É triste, também, perceber que cada vez mais jovens estão chegando no ensino superior despreparados, sem o sentido para a vida e o curso que escolheram. Há de se pensar também nesta preparação aligeirada dos jovens com memorização de fórmulas, truques e frases de efeito apenas para serem aprovados no vestibular.

Os conteúdos escolares precisam ser ensinados com sua função social e não apenas como moeda de troca para avaliações. Nem tudo está perdido. Ainda temos bons professores, que fazem de cada aula um espaço de descoberta na certeza de que todos podemos aprender. Professores que não aceitam serem chamados de tios, facilitadores, ou outro nome qualquer. Querem ser chamados de professores mesmo, profissionais da educação, educadores que veem o ensino como possibilidade de democratização de saberes e fazeres.


GAZETA DO POVO - 12/10/2010 - CURITIBA (PR)
 
Brasil investe, mas taxa de iletrados ainda é alta

Em oito anos, o Brasil Alfabetizado aplicou R$ 2 bilhões. Mas o índice de analfabetos caiu menos de dois pontos porcentuais

Agência Globo
 

BRASÍLIA - O faxineiro Edvaldo Félix Bezerra limpa banheiros no setor de transporte e garagem da Câmara dos Deputados. Entra às 7 horas e começa o dia sujando o polegar de tinta. Aos 53 anos, Edvaldo é analfabeto e preenche a folha de ponto com a impressão digital. Principal meta do Ministério da Educação (MEC) no início do governo Lula, a erradicação do analfabetismo está longe de virar realidade. Em seu oitavo ano, o programa Brasil Alfabetizado já gastou R$ 2 bilhões, em valores atualizados, e matriculou milhões de jovens e adultos. Mas o índice de iletrados, na faixa de 15 anos ou mais, caiu menos de dois pontos porcentuais: de 11,6%, em 2003, para 9,7%, em 2009, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. O número absoluto de analfabetos está na casa de 14 milhões desde 2006, segundo a Pnad. No ano passado, eram 14,1 milhões. Até o fim de 2010, o Brasil Alfabetizado deverá atingir a marca de 14 milhões de matrículas, considerando-se a quantidade de alunos atendidos a cada ano. Em 2010, a previsão é atingir 2,2 milhões de jovens e adultos. A maioria das turmas, porém, só começará nos próximos meses, avançando sobre 2011.

Eficácia - Coincidentemente, o total de vagas oferecidas pelo Brasil Alfabetizado (14 milhões) está perto de igualar o número absoluto de iletrados. Ou seja, pode-se afirmar que o programa do MEC criou condições de atender um número equivalente ao de jovens e adultos analfabetos no país. Os dados da Pnad sugerem, porém, que a iniciativa não surtiu o efeito desejado. Outro problema é que o MEC desconhece a eficácia do Brasil Alfabetizado. Só em 2009 o ministério instituiu um teste para aferir a aprendizagem ao final do curso. Como o programa é realizado em parceria com governos estaduais e prefeituras, não é o MEC que aplica a avaliação. Além disso, cabe aos parceiros informar os resultados. E muitos deixam de fazer isso.

No ano passado, ao renovar as parcerias, o MEC cobrou informações sobre o desempenho das turmas de 2007, quando ainda não havia um teste padronizado. De 1,3 milhão de alunos supostamente atendidos naquele ano, pelo menos 927 mil teriam concluído o curso e 666 mil teriam sido alfabetizados, segundo as informações que chegaram ao MEC. Como nem todos os parceiros continuaram no programa, os resultados desses alunos não foram enviados. O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, André Lázaro, diz que a evasão no Brasil Alfabetizado gira em torno de 30%. Embora a Pnad informe que a idade média do analfabeto brasileiro era de 54 anos, o país tinha 5,4 milhões de iletrados com menos de 50 anos, em 2009. A maioria vivendo em áreas urbanas: 3,2 millhões nas cidades e 1,8 milhão no campo.

Até no MEC - O faxineiro Edvaldo não é o único analfabeto no setor de transporte e garagem da Câmara. Raimundo Oliveira, de 53 anos, também usa o dedo para “assinar” o ponto. Ele abandonou a escola para servidores da Câmara. Edvaldo, que nasceu em Pesqueira (PE), conta que abandonou a escola ainda criança, pois não gostava de estudar e só queria trabalhar na roça: “Me arrependi muito porque não estudei quando era novo. A pessoa que sabe ler conhece muita coisa e pode arrumar um serviço melhor”, diz Edvaldo, que recebe R$ 600 por mês, somando salário e benefícios. Até no MEC há analfabetos. Embora seja capaz de assinar o nome e, com algum esforço, ler até frases, Almir Alves Rodrigues, de 37 anos, está no limiar entre o analfabeto absoluto e o funcional, aquele que lê, mas não entende. Almir é faxineiro terceirizado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do MEC responsável pela pós-graduação. Nascido no Distrito Federal, ele diz que terminou a 4.ª série do ensino fundamental, mas largou a escola para ajudar a mãe, trabalhando como vendedor de balas e engraxate. “Sei ler muito pouco. O mais difícil são aquelas letras enganchadas”, diz Almir.

Reformulado - O Brasil Alfabetizado não apareceu na propaganda eleitoral da candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff. O motivo é simples: o programa, que já foi reformulado uma vez, ainda não consegue funcionar direito. Até 2006, os convênios eram celebrados também com organizações não-governamentais. O MEC acabou com a parceria com ONGs, passando a firmar convênios apenas com prefeituras e governos estaduais. Um dos objetivos era atrair professores da rede pública para atuarem como alfabetizadores. A meta era que, pelo menos 75% dos alfabetizadores fossem docentes. Segundo André Lázaro, porém, o porcentual de professores gira em torno de 15%. Eles recebem R$ 250 por mês para dar quatro aulas por semana. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi ministro da Educação no primeiro ano do governo Lula e lançou o Brasil Alfabetizado. Ele critica a mudança de prioridade no MEC. No início de 2004, logo após a demissão de Cristovam, erradicar o analfabetismo deixou de ser meta do governo: “O nível de analfabetismo no Brasil é uma dívida que continua depois dos governos de Fernando Henrique, de Lula e de 25 anos de democracia. Uma vergonha nacional”, diz.


FOLHA DE SÃO PAULO, 12/10/2010 - SÃO PAULO (SP)
 
É hora de priorizar a escola pública


Clamamos desde já àquele que assumir a Presidência: diga claramente à sociedade que o verdadeiro palácio republicano é a escola pública

RUBENS NAVES e CAROLINA GAZONI

Ao assumir a Presidência, em 2003, Lula jogou o cacife político que obtivera nas urnas na promessa de zerar a fome no país. Eticamente inquestionável, a meta prioritária de prover sustento nutricional mínimo a todos os brasileiros foi, segundo percepção dominante no Brasil e no exterior, satisfatoriamente alcançada e, junto com uma substancial redução da pobreza, constitui, provavelmente, a maior realização de seus dois mandatos. Avanços fundamentais na história brasileira, a promoção dos mais pobres e a consolidação de uma efetiva trajetória de distribuição de renda, entretanto, não garantem a conquista de patamares mais elevados de civilização. Enquanto os alunos das escolas públicas -que compõem mais de 85% dos estudantes da educação básica- continuarem à míngua em termos de qualidade de ensino, o Brasil seguirá ao sabor dos ventos e humores globais, incapaz de implementar um projeto autônomo e vigoroso de desenvolvimento. O próximo presidente da República terá a oportunidade de liderar o país rumo à definitiva superação do subdesenvolvimento. Mas, para isso, precisará assumir plenamente a responsabilidade de elevar a educação básica brasileira a níveis de qualidade compatíveis com um projeto digno de nação.

Tarefa que provavelmente exigirá alguns sacrifícios orçamentários em relação a outras metas legítimas de governo, mas que demandará, sobretudo, determinação, coragem e competência. Determinação para recusar objetivos políticos mais fáceis e de efeito eleitoral mais rápido. Coragem para enfrentar resistências corporativas dos que não querem ser cobrados pelos resultados de seus alunos e interesses privados dos que lucram acolhendo refugiados da escola pública em instituições particulares medíocres. Competência para implantar as bases de um sistema educacional capaz de arregimentar universitários talentosos para a carreira docente, atrair pela qualidade e gratuidade os filhos da classe média e promover ascensão social em uma escala inédita. Uma escola pública com essas qualidades -como existe em vários países- vale mais que qualquer tesouro mineral ou agrícola. E, por gerar uma sociedade mais esclarecida, é a melhor garantia de que as riquezas e potenciais do país serão bem explorados, com sustentabilidade e sabedoria.

Graças a uma iniciativa da Fundação Abrinq, tanto Dilma Rousseff quanto José Serra assinaram um compromisso público garantindo a continuidade do Plano Presidente Amigo da Criança e do Adolescente, lançado em 2003, que prevê a priorização de políticas e ações para a efetivação dos direitos dos brasileiros mais jovens e inclui metas educacionais. Diante do compromisso dos candidatos e das oportunidades históricas que hoje se abrem ao país, clamamos desde já àquele que, no dia 1º de janeiro de 2011, subir a rampa do Planalto: diga claramente à nação que o verdadeiro palácio republicano, do qual a sociedade precisa tomar posse para gestar a grande e bela democracia brasileira do século 21, chama-se escola pública. Ao proclamar e cumprir essa prioridade, aquele que assumir a Presidência vai se mostrar à altura da liderança que lhe terá sido outorgada por dezenas de milhões de votos. Creiam: a maioria dos brasileiros compreenderá a importância da missão e atenderá ao seu chamado. RUBENS NAVES, 68, advogado, foi presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente de 2002 a 2006. CAROLINA GAZONI, 30 é advogada. Os dois são autores do livro "Direito ao Futuro - Desafios para a Efetivação dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes", recém-lançado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.


O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/10/2010
Participação em reforço é desafio para escolas


Rede pública enfrenta alto número de faltas quando recuperação ocorre no contra-turno

Luciana Alvarez

Motivar adolescentes com baixo desempenho escolar é uma tarefa que desafia gestores das redes pública e privada. A combinação da chegada do fim do ano com notas abaixo da média costuma provocar desânimo nos alunos. Não há consenso sobre quais são as medidas ideais para reverter esse quadro, e há estratégias que provocam polêmica. Desde o início de 2010, a rede estadual de São Paulo conta com professores de português e matemática com horários exclusivos para atender quem precisa de reforço. Cabe aos diretores e coordenadores das escolas escolher o horário das aulas conforme a necessidade dos alunos. Segundo a secretaria de Educação, a maioria dos colégios adota a chamada recuperação paralela no contra-turno. O problema desse modelo é o grande número de estudantes que não comparece, em geral a partir do ensino médio. "Fui só umas quatro vezes no reforço, muitas vezes acabava esquecendo", conta Lindinês Souza Santos, de 16 anos, no 2.° ano do ensino médio. "Agora já desisti, porque não vou conseguir média em matemática." Segundo a aluna, haviam 20 estudantes convidados pela direção da escola para participar do reforço de matemática, mas a classe no período da tarde nunca reuniu mais de dez. "Eu moro longe, não dá tempo de ir para casa almoçar e voltar, e também não quero ficar na rua até o horário", justifica-se a colega Marina Raphaela Cordeiro, de 16 anos, por não aparecer.

A coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas da secretaria, Valéria de Souza, explica que não é possível obrigar os alunos a comparecer fora do horário de aula. "Eles são convocados. A escola faz pressão, tenta envolver os pais, mas no ensino médio eles têm mesmo mais dificuldade de voltar para a escola." Recentemente, um projeto-piloto que previa a distribuição de brindes culturais no valor de R$ 50 para os estudantes que frequentassem regularmente a recuperação por três meses foi suspenso após repercussão negativa.

Segundo a coordenadora, mesmo com a "dificuldade" no ensino médio, o resultado tem sido positivo e a nova recuperação deve ter reflexo nas próximas avaliações do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) e Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb). "Se você tem uma política de recuperação, o aluno responde. Às vezes um problema pontual prejudica todo o trabalho", diz Valéria. Não há um controle centralizado de qual é a proporção de frequência entre os alunos convocados. Durante a aula. Como forma de evitar as ausências no contra-turno, algumas  escolas da zona norte da capital paulista estão dando a recuperação durante o horário padrão. O estudante deixa de assistir a uma ou duas aulas regulares por semana para participar do reforço.

A própria secretaria diz não recomendar o esquema, mas o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Munhoz Alavarse diz que, se bem aplicada, a ideia é boa. "Como uma adaptação para que o aluno se reintegre aos colegas sem sobrecarregar sua jornada, é positivo. Mas, mal aplicado, pode comprometer a vida escolar dele, que já estava complicada", diz o professor. "Esse processo se chama de diferenciação pedagógica: mudar a forma de ensinar para quem não está acompanhando. Mas, para funcionar, implica um refinamento na aplicação", alerta Alavarse. Uma professora da Escola Estadual Renato de Arruda Penteado que aderiu à recuperação no horário regular conta que a ideia não está funcionando. "Tem aluno que prefere não ir ao reforço para não perder matéria nova", relata a docente, que pediu anonimato. "É uma bagunça. O professor dá aula regular, não sabe se o aluno faltou ou está no reforço e não gosta que tirem o aluno de sua aula. A recuperação fica sem crédito."


PORTAL IG EDUCAÇÃO - 11/10/2010
 
Eles poderiam pagar, mas colocaram o filho em escola pública


Embora raros, há casos de famílias de classe média e alta que preferem matricular as crianças em instituições públicas

Cinthia Rodrigues, iG São Paulo

Como a maior parte dos irmãos em idade escolar, Ian, de 11 anos, e Ana, de 14, têm rotina muito parecida. Ambos estudam em tempo integral e além do currículo comum fazem aulas de artes e esportes na escola que frequentam. A diferença é que a instituição particular na qual ele estuda custa R$ 800 e a dela é pública. “Para a gente, o dinheiro nunca foi o fator determinante”, diz o pai, o psicólogo Mauro Fini. A família faz parte de um pequeno grupo que, embora tenha condição financeira de bancar escola particular, prefere uma pública – possibilidade desconsiderada pela maioria dos integrantes das classes A e B. Em alguns casos, o motivo é a admiração por uma unidade diferenciada, em outros, a decepção com o sistema privado e, quase sempre, há uma dose de ideologia e politização.

“Eu e minha mulher estudamos em escola pública a vida inteira e não tínhamos reclamações”, afirma Fini. Ainda assim, os filhos foram matriculados primeiro no sistema privado, mas como as crianças mostravam pouco interesse pelos estudos, a opção foi revista. “Tentamos duas particulares e via nelas mais performance visual do que preocupação pedagógica. Sentíamos falta do que tivemos na nossa infância”, conta. Só então, ele e a esposa foram conhecer as escolas estaduais próximas ao Sumaré, bairro onde moram em São Paulo. “Quando vimos os corredores e as salas sem nada demais, primeiro foi um pouco chocante, mas depois pensamos que o que importaria seria o ensino e que era hora de tentar”, disse. Ana, que ingressaria na 5ª série, foi matriculada na EE Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, passou a se interessar mais pela escola, entrou para o grupo de teatro e agora está prestes a se formar no 9º ano. Ian foi para a EE Faria Lima, não gostou e, após um ano e meio, foi transferido para uma privada. “O que me importa é que cada um está feliz onde está. As pessoas acham que, porque pagam, o serviço é bom, e perdem a oportunidade de conhecer algo que pode, ou não, ser até melhor”.
“Todos já pagamos pela pública” - A mesma escola que não agradou Ian Fini tem feito sucesso com seu xará Ian Cabral, de 8 anos, e o irmão mais velho Arthur, de 10 anos. Os dois frequentaram instituições particulares renomadas no Rio de Janeiro e em São Paulo e, para a surpresa da mãe, Vanessa Cabral, não aprenderam o esperado. Cansada de questionar a metodologia dos colégios privados, ela passou e se perguntar por que não tentava o sistema público. “Embora me sentisse bem indo buscar as crianças ao lado de atrizes globais, tive que procurar outra opção e pensei: todos já pagamos pela escola pública, se usássemos pelo menos poderíamos criticar com propriedade”, conta a criadora do blog Escola Pública Não É De Graça. Na nova instituição, ela encontrou defeitos e qualidades, mas o que a surpreende é a reação dos amigos de classe média e alta. “Ouvi outro dia: você não tem nojo? Essas escolas do governo parecem tão sujas. Você deixa seus filhos comer a comida da escola? Não tem medo que peguem doença? Eu aguento porque chego em casa e eles vem me contar animados o que aprenderam.”

“Particular é para milionário ou problemático” - A produtora Danae Stephan confessa que já teve o mesmo preconceito relatado por Vanessa. Desde que Alesio, hoje com 8 anos, nasceu, ela só pensava em qual particular matricularia o filho, mas o ex-marido, que é italiano, não conseguia entender e achava que aquilo privaria a criança de ter contato com o mundo real. “Para ele, que tem a visão europeia do assunto, o sistema privado é só para milionário e crianças com muitos problemas de comportamento”, lembra. Relutante, ela começou a prestar atenção nas públicas e conheceu a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Amorim Lima, no bairro Butantã, em São Paulo, escola em que turmas de séries diferentes trabalham juntas e os alunos têm grande autonomia. “Ele ainda nem estava na idade e eu já reservava a minha vaga”, conta. Danae e Alesio gostaram tanto da escola que mudaram de endereço para ficar próximos dela. “Morava no Alto de Pinheiros e todos os dias perdia uma hora para levar e outra para buscar. Quando venceu o contrato do meu aluguel, não tive dúvidas, fui morar lá perto.” A empolgação contaminou a irmã e parceira de trabalho, Dafne Stephan, que transferiu o filho Carlos Eduardo, de 11 anos, de uma instituição particular para a escola municipal. “Aqui é muito mais legal”, afirma o menino. “Não fico copiando da lousa, e sim escrevendo o que entendo e a gente aprende com os amigos que pensam de outro jeito e chega a um acordo”, diz. Dafne afirma que percebe dificuldades estruturais, mas o ganho em diversidade compensa. “Não quero criar meu filho em uma redoma. Fico muito feliz que ele tenha oportunidade de entender pessoas com vida diferente e eu mesma, que passei a participar bastante da escola, também ganhei”, conclui Dafne.

Preocupações que norteiam escolha - Para a mestre em sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Caren Ruotti, a maior parte dos pais que podem preferem pagar particular por garantias de qualidade que a pública não oferece. “Eles acompanham aprovação no vestibular e as avaliações e não querem arriscar dar menos chances para seus filhos”, diz. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2009, por exemplo, a média do sistema privado para a 4ª série é de 6,4, dois pontos acima da rede pública. O Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro é uma exceção que comprova a regra. Pais de classe média entram na fila ao lado dos mais pobres para disputar uma vaga por sorteio na escola pública que obteve nota 7,1 no mesmo Ideb. “Se não fosse sorteada, colocaria meus filhos em uma particular”, diz a psicóloga Patrícia Tavares de Oliveira Simões. “Só estão lá porque é uma escola muito diferenciada, com professores ótimos e muito bem formados. Não acredito que possa encontrar isso em uma municipal ou estadual comum”.


Observação: as notícias deste clipping são
meramente informativas, publicadas em jornais
diários. Portanto, não expressam a opinião do SINPEEM.


A DIRETORIA

CLAUDIO FONSECA
Presidente

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