Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo

15 e 17/08/2016 - Curso de formação sindical: trabalhando com gênero e etnia nas escolas - Lula Ramires

A importância de trabalhar com gênero e etnia na escola

     A palavra de ordem hoje na nossa sociedade é diversidade. É uma palavra bonita, pois traz embutida a ideia de que as pessoas, os grupos sociais, os povos, os países são diferentes entre si e que podemos extrair coisas muito boas na convivência pacífica, cada um trazendo a sua contribuição singular. É também a ideia de que cada ser humano é singular, tem potencialidades que se desenvolvem ao longo da vida, tem uma origem, tem uma história, tem anseios, tem direito a um lugar ao sol, a conquistas que o reconheçam e o valorizem. No entanto, nem sempre essa concepção vigorou. Se pensarmos que, até pouco tempo, a noção dominante era a do uniforme (não só como roupa igual para todos se vestirem), mas também quanto ao pensamento, ao comportamento, aos objetivos a serem alcançados... E por trás desse "modelo ideal" prevaleciam traços como ser homem, branco, rico (ter muitas posses), heterossexual, sem deficiência, casado e com filhos, cristão, ter diploma, um emprego com status social, ser um cidadão respeitável. 

     Mas esse padrão "dominante" foi sendo denunciado como excludente: muita gente, isto é, a grande maioria estava fora dele. Se você fosse mulher, não fosse branco, não tivesse uma boa renda, não fosse hetero, fosse "desquitado" ou não quisesse constituir família, praticasse alguma religião "esquisita", você não era bem visto. 

     Há uma longa trajetória, portanto, entre sair do modelo "perfeito" e chegarmos à realidade de fato de cada pessoa, de cada família, de cada comunidade ou grupo social. Daí vieram o movimento operário (denunciado à exploração capitalista), o movimento feminista (demonstrando que as mulheres não tinham os mesmos direitos que os homens), o movimento negro (provando a existência do racismo e de exclusão de mais da metade da população às oportunidades de ascensão social), o movimento dos deficientes físicos (exigindo o reconhecimento de que também são capazes) e, finalmente, o movimento LGBT (anunciando que toda maneira de amor vale a pena, não importa o sexo de quem ama quem)... 

     Nada disso é mero detalhe em nossas vidas. Todos nós, de alguma forma, já sofremos preconceito e/ou discriminação, já nos sentimos excluídos e, por isso, feridos, magoados, desanimados e revoltados.

     A pergunta que devemos fazer é: em que momento essas coisas (o sentimento de inferioridade) começa a ser incutido em nossas cabeças? E a resposta é: desde pequenos. É preciso educar, desde cedo para a diferença e para o respeito ao outro que não é como eu, mas que tem o mesmo valor, a mesma dignidade, os mesmos direitos, que merece as mesmas oportunidades, o mesmo tratamento atencioso.... Por isso, a educação infantil pode e deve propor ações que levem à empatia e à solidariedade. Não bastam palavras, é preciso vivenciar isso com gestos concretos, a cada momento.

     Mas não há uma fórmula pronta. Precisamos ser criativos, temos de trabalhar em equipe, construir alternativas que ajudem nossas crianças a serem seres humanos integrais. A começar pelas questões étnico-raciais e de gênero, revendo conceitos e repensando nossas práticas educativas diárias. Para isso, é preciso ler, pesquisar, discutir com os colegas e procurar exemplos de boas práticas de outros lugares. 

     Podemos, juntos, construir uma nova escola que seja boa e acolhedora para todos e que produzirá uma sociedade justa, democrática e fraterna.


     * Lula Ramires, educador e ativista dos direitos humanos


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